domingo, 5 de junho de 2011

Aids: 30 anos de incompreensão

Do NE10 Thamillys Rodrigues

Neste domingo (5) comemora-se os 30 anos da descoberta da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, ou aids como é mais popularmente conhecida. A doença foi observada pela primeira vez no Centro de Controle de Doenças de Atlanta, nos Estados Unidos, em 1981, mas apenas no ano seguinte foi batizada e, em 1983, cientistas franceses conseguiram isolar o vírus da doença, o HIV e determinar as vias de contágio – sangue, secreções vaginais, leite materno e sêmen.

Trinta anos depois, a aids, antes tida como uma sentença de morte – que já matou mais de 25 milhões de pessoas em todo o mundo -, hoje é vista como uma doença crônica. Diferentemente de outras doenças do tipo, no entanto, quem é soropositivo frequentemente é vítima de preconceito. Se na época de sua descoberta, na década de 80, a aids era tida como “a praga gay”, atualmente já é sabido que todos estamos expostos à doença – no Brasil, a cada oito meninos infectados, com idades entre 13 e 19 anos, dez meninas possuem a doença. Ainda assim, se assumir como um soropositivo é certeza de olhares desconfiados e até mesmo medo de aproximação por parte dos mais desenformados. 

Foi o que aconteceu com o coordenador geral da ONG recifense GTP+, Wladimir Cardoso Reis. Ele conta que decidiu fazer o teste de HIV há 17 anos, quando perdeu o companheiro para a aids.  “Naquela época, se colocava cal e fechava o caixão com pregos. As pessoas não encostavam no caixão. Isso me deixou muito sensibilizado, porque eram amigos que estavam lá.” Apesar do resultado não conclusivo – a certeza só veio três testes depois -, Wladimir afirma que já começou a sentir o preconceito. “As pessoas perguntavam em quanto tempo eu ia morrer, se podiam comer no mesmo prato que eu, era traumático”, desabafa. 

Hoje, quase duas décadas depois do diagnóstico, Wladimir, ativista na luta contra a aids, afirma que já enfrenta o preconceito mais fortalecido, mas que muito ainda precisa ser melhorado.  “Querem criminalizar o soropositivo, e isso leva muita gente a não fazer o teste ou não tomar a medicação com medo de ser estigmatizado”, alerta. 

Felizmente, no entanto, o número de testes pagos e distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) saiu de 3,3 milhões, em 2005, para 8,9 milhões em 2009, de acordo com dados do Ministério da Saúde. E quanto mais cedo é feito o diagnóstico da doença, menores são as chances de complicações na saúde advindos de doenças oportunistas. "A taxa de mortalidade ainda é muito alta. Doze mil pessoas que vivem com AIDS morrem por ano no Brasil por conta de doenças como toxoplasmose e tuberculose", conta Wladimir. Por isso, a importância da adesão ao tratamento. 

O coordenador estadual de DST/AIDS de Pernambuco, François Figueirôa, conta que, com o apoio da sociedade civil, muito foi conquistado na área de prevenção e tratamento à doença. Os antirretrovirais, medicamentos utilizados no controle da doença, são distribuídos gratuitamente pelo SUS, assim como remédios para as doenças oportunistas. "Também pelo SUS é possível fazer exames de acompanhamento da condição imunológica, genotipagem, que indica a resistência do vírus e de mudança no coquetel (que é a combinação dos medicamento utilizados para o tratamento da AIDS)", garante o coordenador.

Mesmo com maior acesso à prevenção, no entanto, presente nas campanhas pelo uso da camisinha, ou talvez pela "facilidade" no acesso ao tratamento, o fato é que muitas pessoas continuam se expondo a comportamentos de risco, como o sexo desprotegido. "As pessoas ainda acham que o HIV está longe dela, e quando percebem que alguém da comunidade está com aids acha que com o preconceito e descriminando está afastando a doença dela", afirma Wladimir. Com mais de 592 mil casos acumulados de aids no Brasil e 15,8 mil notificados em Pernambuco, fica óbvio como essas pessoas estão enganadas.

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